Sexualidade do casal infértil
Chega um momento da vida de homens e mulheres que o casal deseja ter um filho. Mas o que fazer
quando eles não conseguem? Hoje, a intervenção médica é uma possibilidade já que a medicina está avançada, capaz de
ajudar o casal com dificuldade de engravidar. Isso tem um lado positivo mas gera uma alta expectativa nos resultados. O
saber médico, o poder desse saber, demanda uma urgência nos resultados quando o corpo é o obstáculo a ser superado à
realização do desejo de gerar. A demanda fica presa na trama orgânica e a sexualidade passa a ser regida pelo calendário.
A vida sexual perde seu caráter de privacidade e espontaneidade. Relações são planejadas com hora marcada.
Além disso, não são mais dois seres, mas uma equipe que toma conta do corpo, revirado, violado. Para
a medicina, a infertilidade é algo pra ser tratado, um sintoma, mas os aspectos emocionais devem ser levados em
consideração, nesse percurso angustiante que acarreta fortes questões emocionais, onde seguidas frustrações geram um alto
custo emocional ao casal.
Às vezes, a infertilidade é mais um sintoma do desajuste relacional. A aspiração de ter o filho, muitas vezes, é o único
objetivo dos dois, o que ainda os mantêm unidos. Quando esse casal chega à terapia, é preciso desfocar para trabalhar a
relação conjugal, entender as consequências de tal dificuldade no dia-a-dia e no funcionamento deles.
Normalmente, tal momento revela uma de crise entre o casal, podendo trazer hostilidade entre eles,
sentimentos de culpa e impotência, além de frustrações que podem abalar a estabilidade da relação, levando à separação.
Além da relação do próprio casal, as relações familiares, sociais e mesmo o desempenho profissional pode ficar
prejudicado.
Muitos homem se queixam de falta de libido, distúrbios ejaculatórios e disfunção erétil. A cada mês,
sentem como se a sua masculinidade estivesse sendo posta à prova. Mas, diferente das mulheres, o sofrimento masculino é
silencioso. Sofre por si e pelo sofrimento da mulher. Mas, muitas vezes, ela não sabe disso. Um momento de grande tensão
para ele pode ser a época da menstruação, por exemplo. Se ele não pergunta é porque não se interessa; se pergunta, o
questionamento pode soar como cobrança.
Algumas mulheres se sentem culpadas. Cobradas pelo mercado de trabalho, pelo homem que quer ser pai
e por elas próprias, que sentem necessidade de experimentar o papel de mãe, já que muitas veem a maternidade como
objetivo primário da maturidade. É frequente, durante o tratamento, o pessimismo aparecer como uma defesa contra as
expectativas. Como se não bastassem as demandas, aparece também a família, que cobra do casal a formação de uma família,
com o nascimento de uma criança.
É comum a presença de disfunção sexual associada à questão da infertilidade. O sexo pode se revelar
frustrante, pois passa a ser vigiado, não mais trazendo prazer, mas sendo uma ferramenta para trazer uma criança ao
mundo.